XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

poesia do brasil

Lilia Diniz 
fotografada por Artur Gomes na 31ª Feira do Livro de Brasília


4.3

Trago a faca cega das palavras
e um alfabeto pobre
incapaz de traduzir
o gozo silencioso
que o teu misterioso
e alucinógeno olhar causa
ao penetrar minha pele,
provocando ebulição
no rio da minha alma.

Sigo no exercício cotidiano
de amordaçar com o éter da metáfora escrita
o pavor que tua ausência me causa.

Asfixio meu pensamento
e faço da poesia
monólogo de saudade
do teu corpo sobre o meu


4.4

Os moinhos de vento do teu peito
giram na direção oposta
da rota que insiste
aproximar nossas bocas.

Teus olhos me despem
com volúpia incendiária.

Empunhando a espada do silêncio
tua língua em brasa
devora meus lábios
com a fome dos mil dias.

Tua saliva queima minha pele
calcina meus ossos
gelando meu pensamento
no espaço entre os suspiros ejaculados
no vulcão do meu ventre em erupção.



LíliaDiniz
www.pelegrafia.blogspot.com





Brasília - num sábado de chuva - foto: Artur Gomes




poema contemporâneo 



1

fazer o poema
contemporâneo,
verso de
pólvora,

e fazê-lo
livre
como se não
fosse verso, pois

não é
este que flagra
um perfil
quando aceso.

2

se contem
porâneo, que os
críticos futuros
o contem,

e lhe expli
quem o pli in
explicável
em que se implica,

pois o palito só
o é se fagulha
súbitos tigres
no escuro.

3

o presente é
menor que o passado
pois o passado é desde
e para sempre,

o presente é ainda
menor que o futuro
que não é ainda
único,

o presente cabe
na cabeça de
um palito
útil.

4

poema nem
palito o é a
pós o fósforo
reduzi-lo a car

vão retorcido,
é o que prova
a história
de qualquer sol

ícito palito
finito no escuro:
risque-o até ar
der nos dedos.





Marcelo Diniz

*
Publicado 2nd April por Marcelo Diniz em Mallarmagens 

**












DAS DORES DE SANTA MARIA


a dor tem tantas formas de doer
mas ela dói mais quando se chora
por quem não sentirá mais nenhuma dor

a dor tem jeitos diferentes de doer:
dói no corpo daqueles que se solidarizam
com o infortúnio dos outros,
tem vezes que dói até mesmo na indiferença 
daqueles que não estão nem aí pela dor que os cerca

porém, a dor da indiferença 
é a mais doída de todas as dores
porque ela fica represada entre muros insensíveis
que um dia haverão de se romper
e então todas as dores doerão numa só dor
por isso a dor pelos meninos mortos em santa maria
dói em cada um de nós 
como se também estivéssemos
transitando sem rumo pelo inferno 
de fogo & fumaça & desespero
do qual tantos não conseguiram escapar

é uma dor muda, entalada dentro da gente
que alguns vão suportar em silêncio,
cruz a ser carregada feito culpa
pela inoperância das nossas leis...

mas o conforto para tantas lágrimas 
há de vir das bocas que não se calarão
e das vozes que não se deixarão sufocar
em memória de tanta vida, tanta alegria 
e de tantos sonhos que nos escaparam
naquela maldita nuvem de fumaça.


Ademir Antonio Bacca
www.ademirbacca.blogspot.com




Jiddu Saldanha
 fotografado por Artur Gomes - no Congresso Brasileiro de Poesia 
- Bento Gonçlaves-RS - outubro 2013


Urubu Macio

Come minha carne
e lembra de roer o osso
no fundo do cerne
deguste a cartilhagem
meu cérebro à mesa
é for de banquete
aos predadores da
civilização

me leva em teu bico
oh urubu macio
cante sua canção silenciosa
aos quatro ventos
não me deixe aqui
triste e só
dê a esse corpo
o direito de ser pó

Jiddu Saldanha





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