XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 19 de março de 2015

Dita Dura


apaixonada saquei minha arma
minha alma
minha calma.
só você não sacou nada

Ana Cristina César





Percorrendo as ruas do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, à noite, Castro Alves, personificado pelo poeta Marcos Peralta, declama fragmentos dos seus poemas ao tempo em que o agitador cultural Jorge Mello, da Cruzada Cultural Castro Alves, nos oferece ricas e polêmicas informações - como aquela do tiro no pé durante a caçada em São Paulo - sobre a vida do nosso poeta maior, Antonio Frederico de Castro Alves, nascido em 14 de março de 1847 na Bahia, data declarada "Dia Nacional da Poesia".


Dita Dura

não gosto de farda
fardo ou terno
nem o que chamam:
DITABRANDA
muito menos DITADURA
já La Vie céus e infernos
minha vida é aventura

Federico Baubelaire

na foto: Tom Zé - baiano arretado

Pra Dizer Adeus



Pra Dizer Adeus
Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Pra dizer adeus

Torquato Neto musicado por Edu Lobo
gravada por vários grande nomes da MPB e uma das mais
emocionantes é a interpretação de Elis Regina

Clarice Lispector


"(...) Que estou eu a dizer?... Estou dizendo amor... E à beira do amor estamos nós."
Para além da orelha existe um som,
à extremidade do olhar um aspecto,
às pontas dos dedos um objeto -
é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma ideia,
ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria,
à ponta da espada a magia -
é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou -
é para lá que eu vou.
Ou não vou?
Vou, sim.
E volto para ver como estão as coisas.
Se continuam mágicas.
Realidade?
Eu vos espero.
E para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra.
(...) À beira de eu estou mim.
É para mim que eu vou.
E de mim saio para ver.
Ver o quê?
Ver o que existe.
Depois de morta é para a realidade que vou.
Por enquanto é sonho.
Sonho fatídico.
Mas depois -
depois tudo é real.
E a alma livre procura um canto para se acomodar.
Mim é um eu que anuncio.
(...) Amor: eu vos amo tanto.
Eu amo o amor.
O amor é vermelho.
(...) À extremidade de mim estou eu.
Eu, implorante,
eu a que necessita,
a que pede,
a que chora,
a que se lamenta.
Mas a que canta.
A que diz palavras.
Palavras ao vento?
que importa,
os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento.
O morro dos ventos uivantes me chama.
Vou, bruxa que sou.
E me transmuto.
(...) Que estou eu a dizer?
Estou dizendo amor.
E à beira do amor estamos nós.
Clarice Lispector

Arte: Vadim Stein