XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

poesia do brasil

 

Fulinaíma produções

Lilia Diniz na 7ª FELIZ – 
São Luís - Maranhão

Usina
mói a cana
o caldo e o bagaço

Usina
mói o braço
a carne o osso

Usina
mói o sangue
a fruta e o caroço

tritura torce suga
dos pés até o pescoço

e do alto da casa grande
os donos do engenho
controlam: o saldo e o lucro


Artur Gomes
http://www.youtube.com/watch?v=bloympN4Jlg&feature=youtu.be
https://www.facebook.com/oficinapoesiafalada?fref=ts
www.artur-gomes.blogspot.com
Fulinaíma Produções – Cine Vídeo Teatro Poesia
Oficinas – mostras - performance
https://www.facebook.com/FulinaimaProducoes?fref=ts






aqui não mais aqui



(uma fímbria)  
                         (uma face)
       
                                            (uma frase)

nem tudo o que sabemos
linguagem
nem tudo o que resta

: o pousar que recolhe
o que existe (a obscura mistura)
viver significa

                         e é tudo
                          sobretudo

Aricy Curvello
Do livro: 50 Poemas Escolhidos Pelo Autor



segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

poesia do brasil

imagem henrygGrossman

os caramujos gritam
nos mamoeiros
do quintal

sabem

que sou eu
que me aproximo

nem humano
nem cruel:
apenas limpo

de faca
em punho
(enferrujada)

em silêncio
como deve ser
um assassino

alguns apenas
olham e resmungam
antes da queda

outros sussurram
numa língua
de sibilas

sou o ponto cego
no amarelo
do quintal

entre pedras
vou abrindo
suas almas



carlos moreira








um poema para ana elisa

eu pesquei o céu 
não dos anjos e santos 
o céu dos poetas 
que é bem mesclado mesmo 
de infernos

*líria porto







Vitrine contra ignorância
(Para Pat Lau)


Minha pele não é branca
Minha pele não é preta
Minha pele não é amarela
Minha pele é transparente
Para que possas ver
Meu sangue
Vermelho
Minhas vísceras
Iguais às tuas
Meus ossos propensos
A osteoporoses
Meu raio x
Da mesma tua
Fragilidade.




Adriane Garcia






Poetria

poema é face descoberta
de tudo que pulsa

poema é atitude permanente
em tudo que passa

(que massa)

Lau Siqueira
In Poesia Sem Pele




Reynaldo Bessa - fotografado 
por artur gomes no PSIU Poértico - Montes claros-MG




quando eu tinha oito anos
descobri o tempo.
ele estava numa plaqueta,
numa mercearia
dizia: “ fiado só amanhã”
foi aí que percebi que o tempo
não posa para fotos

Reynaldo Bessa
Do livro: Outros Barulhos
Prêmio Jabuti – 2009




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

poesia do brasil

 



Quero apenas 

Além de mim, quero apenas 
essa tranqüilidade de campos de flores 
e este gesto impreciso 
recompondo a infância. 

Além de mim 
– e entre mim e meu deserto – 
quero apenas silêncio, 
cúmplice absoluto do meu verso, 
tecendo a teia do vestígio 
com cuidado de aranha.

Olga Savary 


Salgado Maranhão - f
fotografado por Artur Gomes na 7ª FELIZ - São Luís - Maranhão


Punho da serpente


eu acompanho o movimento  da serpente
e seu diálogo com a rã.

é tanto que quando a chama
ao seu seio,
não o faz como quem mata
mas como quem constrói seu ser.

e o faz com tal leveza
que a rã se esquece que é presa
e passa a ser sua irmã.

que no combate
o punho seja assim:
quase uma imaginação,
que entre tão suave
como a nossa afeição.



Salgado Maranhão
Do Livro: A Cor da Palavra

Prêmio da academia Brasileira de Letras - 2011





Minha Casa

Zeca Baleiro

 gravada no CD Líricas 
MZA Music - São Paulo 
É mais fácil

Cultuar os mortos
Que os vivos
Mais fácil viver
De sombras que de sóis
É mais fácil
Mimeografar o passado
Que imprimir o futuro...

Não quero ser triste

Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...

Nem quero ser estanque

Como quem constrói estradas
E não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas...

Amoras silvestres

No passeio público
Amores secretos
Debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar...

Veja o mundo passar

Como passa
Uma escola de samba
Que atravessa
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Sentado na porta
De minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu sempre morei
A casa onde eu sempre morei
A casa onde eu sempre morei...






Tudo é nada
a cidade abandonada
e essa rua não tem mais
nada de mim
nada.
Noite alta madrugada
na cidade que me guarda.
E esta cidade me mata
de saudade
é sempre assim.
Toda palavra calada
nesta rua da cidade
que não tem mais fim.


Torquato Neto







os homens falam
as pedras ouvem
se precipitam quando voam
meteorito
pedra com comportamento de vento
o som das pedras
materializado na voz do vento

mas a dúvida tem mãos pesadas
e a dúvida é maior que a vida

depois que a cortina da pálpebra se abriu
o som do sol se destruindo para alumiar
nunca mais cessou


Amarildo Anzolin
Do livro: EU TAMBÉM








cidade acesa

meu coração inquieto
quer zanzar
pela madrugada adentro
dentro de você
ele quer te abrasar
quer mel e beleza
quer te namorar
de pau duro
e palavras acesas


Aroldo Pereira
In parangolivro



Guilherme Rodrigues - 
fotografado por Artur Gomes no 27º PSIU Poético 
Montes Claros das Minas Gerais



II. a retina me incorpora

meu corpo para
a um olho estranho,

que, por ser olho,
tem um corpo vivo,

que sendo outro,
é um corpo estranho,

e, por ser olho,
mais estranho ainda,

e, por ser corpo,
traz a si meu corpo

e em vasto escopo
vê meu corpo todo

e o meu corpo-olho,
(ou: muito-pouco)

capta o outro olhos
- corpo-ímã –

que captado, corpo,
por meu olho,

me incorpora
à sua retina


Guilherme Rodrigues
Do livro: RETINAS
guilhermerodrigues1984@gmail.com




Lau Siqueira 
- fotografado por Artur Gomes na 31ª Feira do Livro de Brasília-DF





capoeira

um corpo
visível pomo nuca
soluça na taça

não cabe no oco

indo rugindo indo

surgindo dentro

como raiz
que floresce asas


Lau Siqueira
In Poesia Sem Pele
www.poesia-sim-poesia.blogspot.com




Celso Borges
 - fotografado por Artur gomes na 7ª FELIZ - São Luís - Maranhão



O Incêndio da Casa dos Lordes e dos Comuns

do outro lado do mundo
beira de um rio londrino
o pintor Joseph Mallord William Turner
toca fogo no fim do céu

no dia seguinte a Tate Gallery anuncia o leilão do pôr-do-sol


Celso Borges
No livro BELLE EPOQUE




Flávia D´Angelo
 - fulinaimando pelo mundo no delírio do poeta




VORAGEM

não tapa
minha cara
que boca
não cala
respiro
profundo
me seca
estressa
com língua
na meta
no poço
te afundo
que forte
me acho
não meço
só faço
respiro meu mundo
não temas
se fraco
não tentes
cansado
entrar
no meu fundo.


Flavia D'Angelo

http://trapeziotrs.blogspot.com.br/