XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

poesia do brasil

Múcio Góes






ÓTICA

talvez joio
mas vi trigo

translúcido 
o mergulho
de tais névoas

o que se sabe
já nem arde
para os olhos
do grão visto 

Beatriz Helena Ramos Amaral






A la carte


Penso em
carne crua
enquanto você
me diz: fruta!


marisa vieira







Oral

Coisa mais vagabunda
Vagaba
É a palavra
Pulando de boca suja em boca suja

Reles prostituta sem exigências
Velha de assanhos
Palavra nua
Qualquer canto e cama

Não dorme, já está com outro
Se o de antes silencia
Palavra nascida, com homem
Não vive sem

Promíscua, sem reservas
Palavra sua
Mal gozou e nem se limpa
Se mete em outra

Vez em quando alguém a arruma
Põe enfeite, leva para passear de braço dado
Solene como
Uma palavra de época.






à flor da pele
além da pele

membros e alma
minha vida inteira
dói.

Ana Sandra








DIA CINZA

O Coração sangra,
e um riso desmaia na face
enquanto a última estrela da noite
se despede da solidão
e o vento sopra baixinho um dia sem luz.

Hoje não tem alegria na feira
nenhuma poesia dirá pra ser feliz
não estou disponível pra sorrir
nem tampouco pra chorar.

Nem mágoa nem trégua
sem graça nem desgraça
e alérgico às pequenas coisas
sigo indiferente às rosas
nem cultivo espinhos,
um jardim sem primavera..

A Felicidade sabe meu nome de batismo,
mas insiste em me chamar pela alcunha de poeta
as vezes respondo, outras finjo que não conheço
Cartola e Bilie Holiday sabem do que estou falando.

Estou circo sem palhaço
e suas mãos de trapézio despedem-se dos meus abraços.
Da cartola, um dia sem magia
se equilibra no horizonte
e os pardais ensaiam um blues da melancólica.

Nem garoa nem tempestade
nem preto nem branco
E o sol, indisposto, falta ao compromisso
enquanto uma manhã cinzenta cavalga no céu azul
e fotografias velhas saúdam lágrimas novas.

Meio dormindo
meio acordado
meu corpo é apenas o pijama da alma
um fantasma do passado.
Menino assustado com noites mal dormidas
ando pela rua descaminhando o cotidiano
enquanto lembranças mortas assombram o futuro.

Nem palavrão
nem palavrinha
não leio cartas nem bilhetes
o grito varre o silêncio
para debaixo do meu tapete
enquanto a poeira se impregna de sorrisos magros

Nem paz
nem guerra,
apenas um dia triste


Sérgio Vaz

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