Criado em 1990 pelo Jornalista, Poeta e Produtor Cultural Ademir Bacca, o Congresso Brasileiro de Poesia teve suas primeiras edições realizadas na cidade de Nova Prata. A partir de 1996 passou a ser realizado em Bento Gonçalves. O Congresso Brasileiro de Poesia acontece durante uma semana com o apoio da Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves e de Empresas e Comércio e é uma realização do Proyecto Cultural Sur Brasil.
vozes teoremas sintomas que sejam vulto paisagem seta, reta
curva ... sem raios ou coisa paisagem menos muralha
rasgos, sussurros, risco salto, movimento temperatura de homem ladrilho, asfalto
se febre, contágio se poema ocupação
leito, verso momento...
poesia.
Carmen Silvia Presotto, Vidráguas!, lendo Claudio Willer, uma das minhas maneiras de ler e escrevendo, outros de contar o poema em voz alta e importante que o sentir siga ecoando e a poesia, a leitura ressoando...
não toque no rádio não mexa na ferida nem provoque o sonho
deixe a noite acontecer sem pressa
não fale meu nome não atravesse a ponte
fique onde estás e me deixe entregue ao meu silêncio
hoje, eu calo por nós dois
nós
essa coisa
que há em nós
busca que não cessa
palavra que não sacia
esperança que a gente tece
teimosamente
todos os dias
essa coisa
que há em nós
bálsamo para tantas dores
que a gente acostumou
e nem mais sente
força estranha
que há em nós
e nos leva pelas ruas
em busca dessas coisas todas
que na madrugada
desatam sobre nós
migração
sonhos
sonhos batem asas dentro de mim
quem sabe para o norte quem sabe para morte
do conformismo
eu toco
a minha vida
como que conduz
um tropa de bois
de que me vale
a sensibilidade
de poeta
se a insensatez
dos governantes
sempre põe tudo
a perder?
Extraídos de BACCA, Ademir Antonio. PLANO DE VÔO. Bento Gonçalves: Grafite, 2004. 128 p.
Ademir antônio Bacca
Natural de Serafina Corrêa, RS, é poeta, contas, folclorista e jornalista. Publicou, até 2007, oito livros de poesia, além de organizar e participar de muitas antologias. Ativista cultural, organizador de festivais e eventos de poesia com repercussão nacional e internacional.
“Ao alçar seu Plano de Vôo, com poemas curtos e tocantes, é possível imaginar o poeta navegando sua asa delta emocional pelas querências gaúchas, captando o silêncio do silêncio, num horizonte sempre distanciado.”
Tenho um coração de honra Não choro penas de mim Não tem bom, não tem ruim Só é meu o que mereço Pago pra vida o seu preço Do começo até o fim.
Não peço esmola ao destino A minha vida eu bendigo. Eu conto é mesmo comigo Mantenho erguida minha testa. No sofrimento ou na festa Ao meu lado tenho amigo.
Só a verdade me ilumina Do mundo eu tomo tenência Sigo a luz da minha consciência Não dou elogio de graça E só a uma prenda lindaça ( e só a um peão lindaço ) Chamo de vossa excelência.
Sei o certo e o errado E tudo o que tenho dito São ideias que reflito. Por isso não me confundo Vou aprendendo com o mundo Só luto porque acredito.
Tenho um coração de honra Ninguém me ganha no grito Respeito mais meu cãozito Do que muito mequetrefe* Com pose de grande chefe. Falo e mando por escrito.
* mequetrefe: se mete onde não é chamado; patife.
POEPLANO
Num poema-plano
me chamo Fulano
dou bom dia e abano.
Já fui um freudiano
até kafkiano
sou mais franciscano
não há engano. .
Faço mil planos:
voar de aeroplano
ser amigo de Beltrano
usar o tutano
passar de ano
tocar piano
virar drummoniano.
Pode ser insano
o meu poeplano
mas é bem humano.
É isso, meu mano !
Minha Lei é Ler
Minha lei é ler o nome na lista o sangue na pista os cacos do vidro os brancos do livro a febre de sentir a ânsia de partir.
Minha lei é ler o amor imperfeito o vazio no peito o “amém” das igrejas o antes que elejas o gemido da foca a viagem da coca.
Eu só leio eu só leio o Livro do Desassossego.
Minha lei é ler o anverso do espelho o estorvo do artelho a fome da escória o fio da História o medo do infante uma linha adiante.
Minha lei é ler o dólar do dia a cidadania o choro profundo a letra do mundo a alma que voa tudo do Pessoa.
Paisagem
Nunca encontrarás essa mulher
ela é um país sem paisagem
para os teus olhos que não inventam chuvas
e que estão sempre de passagem.
Tua distância ainda não é suficiente
para chegares até ela.
Ir, chegar e regressar
sobre as tuas próprias pegadas
para verter de novo teu mundo
é tão improvável e impreciso.
Se o teu desejo fosse o bastante
para enfim encontra-la
mas não tu a toca com desespero.
Nunca encontrarás essa mulher
e essa não é tua sentença
é um mundo que ainda não reconheces.
E se acaso a vires no horizonte
não fales nada, não fales nada
porque ainda é cedo, muito cedo.
Quando for encontrada
Essa mulher
Não será a tua imagem será paisagem.
Dilan Camargo
Nasci em Itaqui e passei minha infância e juventude em Uruguaiana, na fronteira com a Argentina. Nessa convivência, aprendi a falar o portunhol. Fui sempre um assíduo freqüentador da biblioteca do Colégio Sant’Anna, onde cursei o antigo ginásio, e da Biblioteca Pública.
Dos 14 aos 18 anos, junto com colegas e amigos, fundamos o Grupo Gente Nova. Criamos e apresentamos um programa de músicas e comentários na Rádio São Miguel e editamos um jornal impresso, dirigidos ao público jovem, com artigos e notícias. Esta foi uma fase importante na minha formação e que influenciaria a minha futura decisão de me tornar um escritor. Sempre gostei de ler e isso foi um passo para depois me dedicar também a escrever, o que faço, ainda hoje, como um dos maiores prazeres do meu dia a dia. Aprendi, desde cedo, com o meu professor de português e literatura, Irmão Gabriel, o clássico ditado latino: “Nenhum dia sem ler, nenhum dia sem escrever”.
1. Mergulhar no texto até que seja possível compreender todo o seu universo dramático. Perceber as nuances de cada verso ou de cada palavra, para a partir daí ter condições de criar uma forma adequada de interpretação através da fala.
2. Respiração: Respirar calmamente para relaxar antes de cada leitura até sentir o corpo leve, e através da leitura silenciosa, observar espaços rítmicos do texto para melhor executar a respiração dentro desses espaços que devem ser explorados intensamente.
3. Memorização: Executar a leitura silenciosa até ter certeza que o texto está completamente compreendido em todos os seus códigos e significados. A partir daí, começar a executar uma leitura em voz alta, frente ao espelho de preferência, procurando verificar se verso por verso já está grudado na ponta da língua e na pele da memória.
OBS.: Essa Oficina de Poesia Falada pode ser oferecida a adomicílio, a acompanhada de uma Oficina de Produção de Vídeo, com tem sido realizada em São Conrado e Copacabana, no Rio de Janeiro, com aulas de duração mínima de 2 horas. Custo a combinar.
Mar de fósseis em cada esquina, a urbe agoniza com cheiro de maresia no asfalto. Nas praças navegam horizontes apagados, sem mapeamento possível, num hemisfério de sucata. Jornais nunca lidos espalham palavras na sombra desses
homens, de borco uns, uns de lado, mastigando guimbas com lábios cheios de felicidade. Perdidas memórias nos arquivos, houvesse algum tempo para reavê-las, seria minúsculo. Mas não há: o tempo fendeu-se como falha geológica geradora de mortos. Também não há identidade nas reentrâncias das ruas, entre havaianas, copos descartáveis, a sopa da noite, todos sangram por poros iguais, cruzam a mesma praia nua. Quem dera houvesse ao menos conchas. in Asfalto (Selo OFF Flip, 2010)
LISBOA
EM MAIO
Um céu que anoitece tarde
sobre colinas e telhados
ao longo do rio largo
costurado à terra
por pontes.
Uma língua reconhecível
na boca dos passantes
sem a pressa das metrópoles.
Um vento que lambe como lobo esfomeado
à espreita nas esquinas
e no topo das escadarias.
A marcha dos eléctricos
quase em câmera lenta:
burricos de tempos aldeões
que ainda empacassem nas ladeiras.
.
EXIGÊNCIA
DA CRÍTICA
Tem um medo terrível de si, de amanhecer com dez braços necessitando movimento e ser ainda a mesma de hoje a imperícia dos dedos, um medo fundo de amanhã subverter os objetos da casa até então usados como
acessórios e não como inventos, tem medo de estar dentro e desamar o que está fora como coisa pestilenta na origem, um medo imenso de um dia se desapegar dos perfis e dos nomes como quem se desabitua do amor pelo desgaste da palavra, é grande esse medo de si (bem maior que o medo dos outros) por ser um livro lido à exaustão com rigor nas leituras.