XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 23 de maio de 2013

coração de honra - Dilan Camargo


CORAÇÃO DE HONRA

Tenho um coração de honra
Não choro penas de mim
Não tem bom, não tem ruim
Só é meu o que mereço
Pago pra vida o seu preço
Do começo até o fim.

Não peço esmola ao destino
A minha vida eu bendigo.
Eu conto é mesmo comigo
Mantenho erguida minha testa.
No sofrimento ou na festa
Ao meu lado tenho amigo.

Só a verdade me ilumina
Do mundo eu tomo tenência
Sigo a luz da minha consciência
Não dou elogio de graça
E só a uma prenda lindaça ( e só a um peão lindaço )
Chamo de vossa excelência.

Sei o certo e o errado
E tudo o que tenho dito
São ideias que reflito.
Por isso não me confundo
Vou aprendendo com o mundo
Só luto porque acredito.

Tenho um coração de honra
Ninguém me ganha no grito
Respeito mais meu cãozito
Do que muito mequetrefe*
Com pose de grande chefe.
Falo e mando por escrito.



* mequetrefe: se mete onde não é chamado; patife.


POEPLANO

Num poema-plano
me chamo Fulano
dou bom dia e abano.
Já fui um freudiano
até kafkiano
sou mais franciscano
não há engano. .
Faço mil planos:
voar de aeroplano
ser amigo de Beltrano
usar o tutano
passar de ano
tocar piano
virar drummoniano. 
Pode ser insano
o meu poeplano
mas é bem humano.
É isso, meu mano !


Minha Lei é Ler


Minha lei é ler
o nome na lista
o sangue na pista
os cacos do vidro
os brancos do livro
a febre de sentir
a ânsia de partir.

Minha lei é ler
o amor imperfeito
o vazio no peito
o “amém” das igrejas
o antes que elejas
o gemido da foca
a viagem da coca.

Eu só leio
eu só leio
o Livro do Desassossego.

Minha lei é ler
o anverso do espelho
o estorvo do artelho
a fome da escória
o fio da História
o medo do infante
uma linha adiante.

Minha lei é ler
o dólar do dia
a cidadania
o choro profundo
a letra do mundo
a alma que voa
tudo do Pessoa.



Paisagem

Nunca encontrarás essa mulher
ela é um país sem paisagem
para os teus olhos que não inventam chuvas
e que estão sempre de passagem.

Tua distância ainda não é suficiente
para chegares até ela.

Ir, chegar e regressar
sobre as tuas próprias pegadas
para verter de novo teu mundo
é tão improvável e impreciso.

Se o teu desejo fosse o bastante
para enfim encontra-la
mas não tu a toca com desespero.

Nunca encontrarás essa mulher
e essa não é tua sentença
é um mundo que ainda não reconheces.

E se acaso a vires no horizonte
não fales nada, não fales nada
porque ainda é cedo, muito cedo.

Quando for encontrada
Essa mulher
Não será a tua imagem será paisagem.



Dilan Camargo
Nasci em Itaqui e passei minha infância e juventude em Uruguaiana, na fronteira com a Argentina. Nessa convivência, aprendi a falar o portunhol. Fui sempre um assíduo freqüentador da biblioteca do Colégio Sant’Anna, onde cursei o antigo ginásio, e da Biblioteca Pública.  
Dos 14 aos 18 anos, junto com colegas e amigos, fundamos o Grupo Gente Nova. Criamos e apresentamos um programa de músicas e comentários na Rádio São Miguel e editamos um jornal impresso, dirigidos ao público jovem, com artigos e notícias. Esta foi uma fase importante na minha formação e que influenciaria a minha futura decisão de me tornar um escritor. Sempre gostei de ler e isso foi um passo para depois me dedicar também a escrever, o que faço, ainda hoje, como um dos maiores prazeres do meu dia a dia. Aprendi, desde cedo, com o meu professor de português e literatura, Irmão Gabriel, o clássico ditado latino: “Nenhum dia sem ler, nenhum dia sem escrever”.

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