XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

mulheres poetas do Brasil





Thoughts

escrevo sobre o que
não sinto
porque o que sou
já não comove mais
palavras só já não são
promessas sós
são só vão
o que não foi
já é
e um dia
existirá

May Pasquetti
www.maypasquetti.blogspot.com







1.0 Não, minha doce açucena não quero falar de poesia posto que o desejo queima minha língua sem metáforas Te quero indecente depravada nua sem prosa nem verso
E se tiver que ter romance que seja escrito em Braile nas páginas do teu corpo para que eu te leia antes com a língua


Lilia Diniz

www.liliadiniz.zip.net









Menina, fiz uma faxina

no meu coração

que nem te conto!
De bate-pronto, joguei fora
todas aquelas mágoas ultrapassadas.
Precisa ver. Que poeirada!
Depois, fui me desapegando
das frustrações.
Eu as reciclei todas:
viraram ótimas lições.
Então, descartei a ansiedade
e, voilá, abri um espação pra liberdade.
E o melhor: ficou tudo tão limpinho...
E não é que meu coração agora
tá cheio de carinho?



Mariana Valle — em Botafogo.






Receita de Homem
(detalhes)

Os muito retos que me perdoem
Mas ser gauche é fundamental

É preciso que haja
Qualquer coisa de sol
em tudo isso
Qualquer coisa de surf
 Qualquer coisa de circo em tudo
 isso
Ou então
Que o homem aprenda a
imprimir o
Arquétipo do “great pretender”
como
Nos bailes dos anos cinquenta

Não há meio termo possível
É preciso que isso tudo seja errante
 É preciso que os ombros emerjam
do tórax numa
 envergadura
Semelhante de uma ave
E que sustentem uma postura
moral indomável lapidando
 uma escultura que lembre
 não menos
que a avidez de uma vela mestra
 pronta para navegar com vento
de través.

é preciso que a imagem das
mãos delongue-se
para além do ante-braço, numa
 união tão contínua e insolúvel
cuja expectativa seja de um
 artefato habilidoso
tão minuciosamente forjado em
vista de eventual emprego
 cirúrgico

 e que exista em grande latifúndio
dorsal

A pele deve ser seca nas mãos,
 nos braços,
no dorso e na face
Mas que as concavidades e
proeminências sejam
úmidas, lúbricas
 e no crescente da paixão
permitam-se deslizar
rumo a horizontes improváveis

Sobremodo pertinente
 É Que o homem não seja
carente mas
Caliente
Que haja um canto delirante
nos olhos
 em reviravoltas e devaneios de
paixão pernas semoventes quando do
enlace pelas pontas pélvicas de
anima que nos ouça o inaudível canto
da combustão
E que ele não lembre nunca um
circo sem magia
E a que a virilidade não seja mais
 que o reflexo mais atraente de
 seus mais óbvios temores

Gravíssimo, porém, é problema
dos pelos
Um homem sem pelos é como
 um solo desmatado

Que ele venha, não surja
Que vá, não parta.
e que erre
 erre durante sete dias
 com a propriedade de um deus
criador
e sem covardia
nos faça fiéis de sua fé errante
 e beber do cálice sagrado da
 perdição

E que em sua incalculável
 Imperfeição
 Constitua a coisa mais bela
E mais perfeita de toda a criação
Inumerável.

Nathalia Colon
https://www.facebook.com/pages/A-Toca-do-Coelho/228321940639820



Identidades
“com meus sonhos de menina”
Triste Sina, Jerónimo Bragança/Nóbrega e Souza

quinze anos e dúvidas
(para além das usuais)
a menina
com duas mães, cresceu
biológica, uma
(que a gerou, pariu e amamentou)
companheira da mãe, a outra

a mãe que a gerou, pariu e amamentou
mudou de gênero e identidade. a
menina passou a chamá-la de pai
(volta e meia, ainda lhe escapa um
mâeeeê!)

Dalila Teles Veras
no livro: estranhas formas de vida


fátima queiroz


ONIPRESENÇA

Aristóteles na Poética
abordou somente a técnica;
no mundo grego, contudo,
a poesis era tudo,
era o próprio movimento:
terra, fogo, água e vento, 
era a vida, as estações,
as marés, as emoções,
a dor, a cura, o remédio
a luta, os louros, o tédio, 
a pólis, a dança, o mito, 
os templos, o vinho, os ritos,
kairós, oportunidade,
destino, fatalidade,
o luto, a luta, a tragédia,
o riso, a festa, a comédia,
a química, a teologia,
a física, a filosofia,
ethos e cidadania,
o ciclo: a própria mudança
que retrocede e que avança.

Penso igual meus ancestrais
(pelo ramo do meu pai):
poesia é tudo o que há,
pra mim ela em tudo está
– desde as larvas mais estranhas
à fé que move montanhas.

Leila Míccolis









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