XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

homens/mulheres poetas do brasil

Hugo Pontes - Poços de Caldas-MG





Mês oito


há gosto pra tudo
dizem que até 
cachorro
alucina
no peito
saudade
é minha
sina...

Marisa Vieira 
(poema da série "Saudade")






A DOR DO PRETO ( Aos africanos escravizados) Marcia Mendes Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão ...(Castro Alves, A Canção do Africano) Coragem infame. Saudade da terra que não conheceu. A dor do preto Cavalga a noite e Trabalha o dia. Marcas do açoite no corpo Alma cravejada de dor No âmago do ser A vida não vivida. Secreta boca do tempo Em vão o consome. A febre o agita no leito Ouve o relinchar da morte: Alimento e profecia. Treme o seu coração Leve a floração dos sonhos Dor sombria. Lábios balbuciam aos céus Sentimento fixo, sem rogativas. Olhos entretecidos, Mãos frágeis espalmadas Vida em degredo Trêmulos horrores. O negror da noite Marcou-lhe a pele. Na paisagem poeirenta, Tambores rasgam o silêncio do dia. Mulheres percebem A chegada do Anjo do sono. As vestes foram enfim abandonadas A dor do preto acabou, Hora de partir. Poço aberto, No porão os escombros. A morte é o cais da madrugada Que traz o perfume da vida A quem em vida Provou a raiz das trevas.

Marcia Mendes




A luz dele eu não sei se teria

Se acaso ontem eu
Tivesse ganhado
Um prêmio literário
E isso tivesse
Por uma manhã
Me deslumbrado
Teria sido passado
Na tarde, na praça
Quando meus olhos
Viram um cego
Errando a bengala
Na pedra.

Adriane Garcia






Chegada

Se tu viesses ver-me nessa noite
Encontraria na porta, um sorriso encanto
Um abraço envolvente como manto
Remédio que afugenta o açoite

Se tu viesses em passos lentos
Entalhando meu rosto em um camafeu
Ouviria todos os conselhos dos ventos
Vagalumeando ou brincando com o breu

Se tu viesses do horizonte belo
Galopando e seguindo o curso do rio
Pontilhando nosso elo nos rastros das estrelas
Escutaria o c
aminho que tanto te assobio...







do duro ofício

a
vida
tem
batido
as
minhas
emoções
com
 a
maestria
de
um
carpinteiro

prego
sobre
prego



cada
poeta
geme
a
sua
dor
com
o
verso
que
lhe
convém

Ademir Antonio Bacca
Poesia do Brasil – Vol. 17
Editora Grafite – XXI Congresso Brasileiro de Poesia
Bento Gonçalves – outubro 2013

Fernanda Dias na Oficina de Poesia Falada 
 e Produção de Vídeo em Pedra Dourada-MG

alguma poesia 


 não. não bastaria a poesia deste bonde
que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.
não. não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô.
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.

não. não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.

não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e uma cheiro de fêmea no ar devorador
aparentando realismo hiper moderno,
num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos

não. não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma um tanto porca,
este postal com uma imagem meio Lorca:
um bondinho aterrizando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo redentor  deixasse a pedra
na certa nunca mais rezaria padre-nossos
e na certa só faria poesia com os meus ossos.

Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva
Prêmio Internacional de Poesia - Quebec - Canadá 1987
fulinaimicamente – neste vídeo com imagens captadas durante a Rio + 20 tem o poema acima interpretado pelo seu autor – Artur Gomes





Tributo a Alberta Hunter

você cruzou o século vinte
longevalegremente
em estado de garça.
conheceu a injustiça,
o lodo, a lágrima,
como todos da nossa raça.
e no entanto você era o canto,
a essência do triunfo.
milênios de beleza
encontraram em sua voz
a vitalidade da fé –
africalegremente oculta
no élan dos ritos,
nas figas de marfim,
nas pérolas de búzios
e no blues.
você atravessou o século vinte
uivando para o céu
até a última letra da alegria,
a última sílaba
da palavra amor;
conheceu os porões da América
e seu coração atômico.

e no entanto você se integrou
ao ar real
se eternizando no cosmos
com a alma das flores e das pedras.

Salgado Maranhão
Do livro: A Cor da Palavra
Prêmio da Academia Brasileira de Letras - 2011


Aline de Oliveira na Oficina de Poesia e 
Produção de Vídeo em Sacramento - Manhuaçu-MG



fulinaimagem

1

por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os verso que ainda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim admirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos
bagana acesa sobra o cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço jimmi hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll
pra colher lírios há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem flor de lótus nos bordéis copacabana
procuro um mix da guitarra de santana
com os espinhos da rosa de Noel

artur gomes
Poesia do Brasil - Vol. 15
Editora Grafite – XX Congresso Brasileiro de Poesia
Bento Gonçalves-RS – outubro 2012

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