XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

muda


pontal atafona - foto: artur gomes


a memória sai da toca
sobe pela palafita
ainda escorrendo lama
e me fita

com olhos de caranguejo
entre as tábuas do piso
do bar do espanhol
quando o pontal era ponta
tinha fé de igreja
e luz de farol

na boca do mangue
passei minha rede de arrasto
mas só peguei filhotes de bagre
que me ferraram o pé
ao chutá-los de volta à água
até que pedro me ensinou
a pegar pitu de mão
entre raízes do mato
na beira do alagadiço

hoje passo no mangue
e não piso na lama
mas na asfixia lenta
dos aterros do homem
e do avanço do mar
perto das ilhas da convivência e pessanha
siamesas da mesma terra
onde ficou minha casca da muda
de caranguejo a espera-maré

atafona, 06/2000

Aluysio Abreu Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário