XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 20 de março de 2014

Um Golpe de Dados na História



AS DUAS FACES
  
– Olhe bem, cidadão, e veja
o mundo que construímos para seus filhos:

absoluta tranquilidade nas ruas;
nenhuma voz de discordância;
todos num produtivo labor.

É paz. É ordem. É trabalho.
E motivo nenhum para insatisfação.

– Vejo:
paz, ordem, trabalho.

Seu mundo é seguro como um quartel
e a vida surgiu para o risco de vivê-la.

Nem as folhas das árvores balançam: mas eu
sonho com um mundo de movimento equilibrado
não com a anulação do movimento;

mesmo as pedras obedecem: mas eu quero
 um mundo onde os contrários se harmonizem
não a eliminação dos contrários;

até as almas suam: mas eu luto por um mundo
não apenas onde o homem realize atividades
também onde as atividades realizem o homem.

         Um mundo
         de paz, de ordem, de trabalho.
        
         E de justiça. E liberdade. E de prazer.

Pedro Lyra

Do livro Decisão – Poemas dialéticos.
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1983)



pomba-paz & pomba-guerra


                negra
                pomba

                     paira no ar

        branca pomba

                          na terra

            contempla

           
            negra pomba
            procura trazer
            terror – desgraça
                       dor

              branca pomba
       i            nerte

                   
                        v
                        e
                        r
                        t
                        e   do olhar
                        lágrimas
                       de paz
                      que caem

                     sem molhar


MORDAÇA

O gesto acovarda e cala
na dança em ponta de faca.

O homem acorda e lança
Um gesto de mãos sem dedos.

A lança que fere a caça,
a nota que soa e cala

E muda ressoa imunda
em trilha de cão sem raça.




                   Hugo Pontes
Poços de Caldas- MG


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