Jomard Muniz de Britto, jmb
Quando soubemos, pela primeira
vez,
do filme de Marcelo Gomes- ERA UMA
VEZ EU, VERÔNICA - o impacto foi
primário:
o que ISTO teria a ver com o mais
editado
autor do Brasil, Paulo Coelho? - NADA,
apesar
de quase todos. Nós, invejosos?
Sem forçar a barra das publicidades,
somos
convidados a participar de um fluxo
de consciência em "frames",
flagrantes e
flutuações do AZUL.
Essas livres associações de imagens,
em cortes e planos-sequência, não
tropeçam
em banais surrealismos.
O mais surpreendente é que o filme vem
desmontar a linhagem PSI de categorias
e comportamentos quase hierárquicos.
Por ele, psicologias, psiquiatrias e
até mesmo
psicanálises se entrelaçam no AZUL de
nossos
desejos, contradições e
multipolaridades.
O rosto de Hermíla Guedes apostando na
fisionomia pensante dos espectadores.
Na imagem final, através de uma ponte,
sua voz
sugere que agora o filme é que vai
começar.
Em nós?
Momentos difíceis de múltiplas
renúncias e
fruições da beleza esplendorosa.
Nudez total, corpos entre mares e céus,
prazeres
transbordantes.
Escapando das racionalidades
analíticas,
uma intuição nos arrebata pela temporal
multipolaridade. Presente sempre em
todas
as direções, mas sem diretivismos.
Tempo de perspectivas.
Sem firulas narcisistas. Sem
anarquismos
fetichistas. Sem temor desesperante.
Tempos do Pai, magistralmente
interpretado
W.J. Solha, ouvindo frevos de tristeza
sem jamais poder encarnar as figurações
de um patriarca. Percorrendo as quase
impossíveis formas de amar a decadência
simbolizada no ex-cinema de arte
Trianon.
Não importa que tudo esteja se tornando
PADRONIZADO pelo barulho do comércio
informal e muito mais pelo desgaste das
filas dos (im) pacientes em busca de
curas impossíveis.
Não a chave, mas a clave de nossas
seduções
se reencontra na antirretórica dos
poetas:
- “Tem muito azul em torno dela/Azul no
céu,
azul no mar/Azul no sangue à flor da
pele/As mãos
de rosa de Iemanjá" (Péricles
Cavalcanti, BLUES).
“- E perdidos de azul nos
contemplamos/e vimos
que entre nós nascia um
sul/vertiginosamente
azul. Azul" (Carlos Pena Filho)
A mim, a nós, o que mais?
Recife, março de 2013.
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