AS DUAS
FACES
– Olhe bem, cidadão, e veja
o mundo que construímos para seus
filhos:
absoluta tranquilidade nas ruas;
nenhuma voz de discordância;
todos num produtivo labor.
É paz. É ordem. É trabalho.
E motivo nenhum para insatisfação.
– Vejo:
paz, ordem, trabalho.
Seu mundo é seguro como um quartel
e a vida surgiu para o risco de
vivê-la.
Nem as folhas das árvores balançam:
mas eu
sonho com um mundo de movimento
equilibrado
não com a anulação do movimento;
mesmo as pedras obedecem: mas eu
quero
um mundo onde os contrários se
harmonizem
não a eliminação dos contrários;
até as almas suam: mas eu luto por um
mundo
não apenas onde o homem realize
atividades
também onde as atividades realizem o
homem.
Um
mundo
de
paz, de ordem, de trabalho.
E
de justiça. E liberdade. E de prazer.
Pedro Lyra
Do livro Decisão – Poemas
dialéticos.
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro,
1983)
pomba-paz & pomba-guerra
negra
pomba
paira no ar
branca pomba
na terra
contempla
negra pomba
procura trazer
terror – desgraça
dor
branca pomba
i nerte
v
e
r
t
e do olhar
lágrimas
de paz
que caem
sem molhar
MORDAÇA
O gesto acovarda e cala
na dança em ponta de faca.
O homem acorda e lança
Um gesto de mãos sem dedos.
A lança que fere a caça,
a nota que soa e cala
E muda ressoa imunda
em trilha de cão sem raça.
Hugo Pontes
Poços de Caldas- MG
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