Criado em 1990 pelo Jornalista, Poeta e Produtor Cultural Ademir Bacca, o Congresso Brasileiro de Poesia teve suas primeiras edições realizadas na cidade de Nova Prata. A partir de 1996 passou a ser realizado em Bento Gonçalves. O Congresso Brasileiro de Poesia acontece durante uma semana com o apoio da Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves e de Empresas e Comércio e é uma realização do Proyecto Cultural Sur Brasil.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
CANTO 81 / Ezra Pound fragmento
O que amas de verdade permanece,
o resto é escória
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem, meu ou deles
ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado
A formiga é um centauro em seu mundo de dragões.
Abaixo tua vaidade, nem coragem
Nem ordem, nem graça são obras do homem,
Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo.
Aprende com o mundo verde o teu lugar
Na escala da invenção ou arte verdadeira,
Abaixo tua vaidade,
Paquin, abaixo!
O elmo verde superou tua elegância.
"Domina-te e outros te suportarão"
Abaixo tua vaidade
Tu és um cão surrado e largado ao granizo,
Uma pega inchada sob o sol instável,
Metade branca, metade negra
E confundes a asa com a cauda
Abaixo tua vaidade
Que mesquinhos teus ódios
Nutridos na mentira,
Abaixo tua vaidade,
Ávido em destruir, avaro em caridade,
Abaixo tua vaidade,
Eu digo abaixo.
Mas ter feito em lugar de fazer
isto não é vaidade
Ter, com decência, batido
Para que um Blunt abrisse
Ter colhido no ar a tradição mais viva
ou num belo olho antigo a flama inconquistada
Isto não é vaidade.
Aqui, o erro todo consiste em não ter feito.
Todo: na timidez que vacilou.
Ezra Pound
Tradução conjunta de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari
maiakoviski
A tarde ardia em cem sóis
O verão rolava em julho.
O calor se enrolava
no ar e nos lençóis
da datcha onde eu estava.
Na colina de Púchkino, corcunda,
o monte Akula,
e ao pé do monte
a aldeia enruga
a casca dos telhados.
E atrás da aldeia,
um buraco
e no buraco, todo dia,
o mesmo ato:
o sol descia
lento e exato
E de manhã
outra vez
por toda a parte
lá estava o sol
escarlate.
Dia após dia
isto
começou a irritar-me
terrivelmente.
Um dia me enfureço a tal ponto
que, de pavor, tudo empalidece.
E grito ao sol, de pronto:
“Desce!
Chega de vadiar nessa fornalha!”
E grito ao sol:
“Parasita!
Você, aí, a flanar pelos ares,
e eu aqui, cheio de tinta,
com a cara nos cartazes!”
E grito ao sol:
“Espere!
Ouça, topete de ouro,
e se em lugar
desse ocaso
de paxá
você baixar em casa
para um chá?”
Que mosca me mordeu!
É o meu fim!
Para mim
sem perder tempo
o sol
alargando os raios-passos
avança pelo campo.
Não quero mostra medo.
Recuo para o quarto.
Seus olhos brilham no jardim.
Avançam mais.
Pelas janelas,
pelas portas,
pelas frestas
a massa
solar vem abaixo
e invade a minha casa.
Recobrando o fôlego,
me diz o sol com a voz de baixo:
“Pela primeira vez recolho o fogo,
desde que o mundo foi criado.
Você me chamou?
Apanhe o chá,
pegue a compota, poeta!”
Lágrimas na ponta dos olhos
- o calor me fazia desvairar,-
eu lhe mostro
o samovar:
“Pois bem,
sente-se, astro!”
Quem me mandou berrar ao sol
insolências sem conta?
Contrafeito
me sento numa ponta
do banco e espero a conta
com um frio no peito.
Mas uma estranha claridade
fluía sobre o quarto
e esquecendo os cuidados
começo
pouco a pouco
a palestrar com o astro.
Falo
disso e daquilo,
como me cansa a Rosta3,
etc.
E o sol:
“Está certo,
mas não se desgoste,
não pinte as coisas tão pretas.
E eu? Você pensa
que brilhar
é fácil?
Prove, pra ver!
Mas quando se começa
é preciso prosseguir
e a gente vai e brilha pra valer!”
Conversamos até a noite
ou até o que, antes, eram trevas.
Como falar, ali, de sombras?
Ficamos íntimos,
os dois.
Logo,
com desassombro
estou batendo no seu ombro.
E o sol, por fim:
“Somos amigos
pra sempre, eu de você,
você de mim.
Vamos, poeta,
cantar,
luzir
no lixo cinza do universo.
Eu verterei o meu sol
e você o seu
com seus versos.”
O muro das sombras,
prisão das trevas,
desaba sob o obus
dos nossos sóis de duas bocas.
Confusão de poesia e luz,
chamas por toda a parte.
Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo a minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
Gente é pra brilhar
que tudo o mais vá prá o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.
A Extraordinária Aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no verão na Datcha
Vladimir Maiakóvski - 1920
(Tradução de Augusto de Campos)
segunda-feira, 22 de abril de 2013
poema preso
foto: artur gomes
Sequência “Poema Preso”
Viviane Mosé
muitas doenças que as pessoas têm são
poemas presos
abscessos, tumores, nódulos, pedras são
palavras
calcificadas
poemas sem vazão
mesmo cravos pretos espinhas cabelo
encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido
poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra
presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema
poemas presos
abscessos, tumores, nódulos, pedras são
palavras
calcificadas
poemas sem vazão
mesmo cravos pretos espinhas cabelo
encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido
poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra
presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema
Viviane Mosé
www.vivianemose.com.br
congresso de poesia afaz nova distribuição de antologias
CONGRESSO DE POESIA FAZ NOVA DISTRIBUIÇÃO DE ANTOLOGIAS
A Semana do livro em Bento Gonçalves terá neste Sábado, das 9h às 16h, um Troca- Troca de livros na Via Del Vino. O Congresso Brasileiro de Poesia mais uma vez estará presente fazendo a distribuição de suas antologias oficiais, através de ação da Biblioteca Castro Alves.
das águas que movem o moinho da saudade
das águas que movem o moinho da saudade
o murmurar
das águas do rio
que corre ao longe
da minha infância
faz-se ouvir
na noite de saudades
do meu pai,
que se precipita em sombras
e silêncio
nada que não o correr
de águas mansas
que trazem lembranças
de trigais dançando ao vento
e da velha avó
resistindo ao peso dos anos
o murmurar
das águas do rio
da minha infância
atravessa a noite silenciosa,
remenda meus sonhos
de menino
e deságua no mar de saudades
que se forma nos meus olhos
Ademir Antonio Bacca
PACO CAC
PACO CAC
Em fevereiro, depois de muitos anos, reencontrei o poeta PACO CAC. Foi na "Pelada Poética" organizada pelo Eduardo Tornaghi. Lá eu e Artur Gomes acertamos com ele a sua vinda para o Congresso Brasileiro de Poesia em outubro, quando ele traria uma exposição sobre Samaral. Quis o destino que aquele fosse o nosso último encontro. Era um grande poeta. (Ademir Antonio Bacca)
domingo, 14 de abril de 2013
poética 62
PoÉtica 62
não vejo nada em Debret não curto
não estou em estado de surto
prefiro Salvador Dali
Matisse, Cézane, Picasso
identidade profunda
como olhar na Barra Funda
a arte em seu tempo/espaço
ocupando espaço/tempo
não gosto do que contemplo
concreto pra mim é abstrato
do abstrato eu faço concreto
cada índio em sua oca
com flecha tacape ou fuzil
Oswald me deu o toque
no manifesto Poesia Pau Brasil
Artur Gomes
Cântico Negro
Cântico Negro
"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.
"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.
José Régio
sexta-feira, 12 de abril de 2013
cólera
cólera
sem dúvida essa fadiga que entardece
é mais forte do que o vento
o vento que não é da família dos chacais
e me procura com uma lente invisível
o vento que racha as paredes
e atravessa a pintura
o vento que atravessa a pintura
e diz que os decibéis
das flores que lhe oferto
estão em anomalia
Wilmar Silva
Belo Horizonte-MG
água e pedra
Água e pedra.
Deve o coração ser às vezes
frio e rígido como a pedra,
e deve ser dobrável e fluir
como a água.
Bate a água na pedra,
e o mar se aquece na luz
da superfície.
Depende o coração das marés
qual um barco.
Absurdo e real, bate e treme
o coração com seu casco a se arranhar
na pedra, e outra vez, e quase sempre
qual um barco segue o coração
boiando entre o fluxo das ondas,
e a possível travessia a ser ferida aberta nas pedras.
Luís Sérgio dos Santos
nasceu em Campos dos Goytacazes hoje mora com as estrelas
apsara ou noite branca
APSARA OU NOITE BRANCA
Pues el viento, el viento gracioso
se extiende como um gato para dejarse definir.
LEZAMA LIMA
Dama do escorpião, Apsara
em teus braços numa noite rara
o demônio delicado dos sofismas
brinca nos espelhos obsidianos
com a fatalidade das tuas mãos finas
Apsara a lógica voluptuosa do escorpião
passeia por tua face múltiplas fúrias
e um veneno sutil se instala nos versos
nessas perigosas noites de outubro
Satã vigia seja noite seja dia
a teoria da rosa e seus mistérios
Apsara filha do fogo dança no alto da chama
enquanto a serpente do meu desejo desliza
no chiaroscuro das cinzas do encantamento
há um esplendor rigoroso nesta luz
um furor sangrento nesta selvagem salsugem dos assombros
Apsara terros naufráfio no presságio azul da madrugada
que se ilumina com a lâmpada da saudade
Carlos Lima
(Ilhéus/Rio de Janeiro, 25 e 26.10.1997)
excertos
(excertos)
Aqui se pergunta (
e se perguntará
) pela pergunta
cem vezes repetida:
duas águas turvas
represadas,
sequência de lentas,
abruptas curvas
para cima, mais um
andar, mais
um, sem-
pre mais um,
: primeira
parte da queda.
Ricardo Aleixo
Belo Horizonte - MG
terça-feira, 2 de abril de 2013
XXI Congresso Brasileiro de Poesia
Atenção Galera
XXI Congresso Brasileiro de Poesia
XVIII Mostra Internacional de Poesia Visual
30/9 a 5/10 – 2013 – Bento Gonçalves-RS
Cidade do Vinho e Poesia
Como participar?
Poesia na Vidraça
Poesia curta de no máximo 10 versos, incluindo o título e
assinatura do autor
Mostra Internacional de Poesia Visual
Poema impresso em papel A4 com assinatura e país do autor na
frente
Vídeo.Poesia
Vídeo com no máximo 5 minutos, incluindo todos os créditos,
arquivo em AVI ou DVD
Oração Poética Para Plantação da Pitangueira –
Adote um poeta, selecionando poesias de sua autoria para ser falado
No momento da plantação da Pitangueira, ato simbólico que
encerra todos os anos cada Edição do Congresso Brasileiro de Poesia.
Circuito de Poesia Ao Vivo – Poesias para serem
faladas pelas ruas centrais de Bento Gonçalves.
Projeto de Performances Poéticas para Seleção
O autor deverá enviar o projeto detalhado, com indicação de
público alvo (faixa etérea), infra-estrutura necessária para apresentação da
performance e custos.
Remessa das Poesias e Projetos até 1 de julho de 2013
Via internet e-mail: poebrasoficial@gmail.com
Poemas Visuais Impressos
e Vídeo.Poesia enviar para Caixa Postal 45 – Bento Gonçalves-RS – 95700.000
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Proyecto Cultural Sur Brasil
Ademir Bacca – Presidente
Artur Gomes – Coordenador de Literatura e Audiovisual
May Pasquetti – Coordenadora de Marketing
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